domingo, 24 de julho de 2011

O Corte – Os fins não Justificam os meios... Ou não ?!?!

Cartaz original do filme   
O Corte




     O que você faria se fosse demitido de sua empresa,de um trabalho que você era apaixonado e que levou tanto tempo lutando e estudando para que chegasse no mais alto nível de carreira profissional ? E se você simplesmente não conseguisse mais achar emprego algum para trabalhar, sendo que tem que sustentar sua família ?

     É assim que começa o filme O Corte (Lê Couperet) do diretor Costa-Gavras. Bruno Davert (José Garcia) era um profissional respeitado, com uma ótima família, mas foi demitido de uma empresa por conta de uma reestruturação. Por mais de vinte anos o protagonista trabalhou e viveu naquele ambiente que ele tanto amava; trabalhar com reciclagem de papéis era sua grande paixão; e, do nada, se vê no desemprego. Por dois anos e meio Davert não conseguia encontrar um trabalho, e isso foi transformando cada vez mais o caráter deste personagem.

     Bruno, após ver o comercial de uma grande empresa no ramo de reciclagem de papel, começa a cobiçar o posto de um profissional tão experiente quanto ele. Mas, ele sabe que para alcançar novamente aquele “status”, enfrentará uma forte concorrência no ramo. Então ele começa a caçar e mata cada um de seus concorrentes que poderiam roubar seu “lugar de direito”.

     Uma história simples, porém, o mais intrigante, é o nível de desestruturação de cada personagem apresentado. Em nenhum momento somos jogados numa França destruída nas ruas, casas, mercados, etc; mas cada personagem mostra sua destruição interior, que acaba tornando-os pessoas totalmente decadentes.

     E essa decadência é apresentada não apenas nas aparências (notem como o personagem que vende ternos se porta: ombros baixos; aparenta cansaço; e usa uma peruca para não mostrar sua calvície), mas também nas atitudes. Principalmente Davert, que poderia ter feito escolhas completamente diferentes para reconquistar aquilo que ele tanto desejava. Mas sua mente havia sido totalmente dominada pelo medo, pela ambição e pelo ódio.

     Isso afetou sua família, mas ele simplesmente não consegue enxergar isso. Todas as suas forças se concentram em um único objetivo. Ele não se importa se sua mulher o traiu, se seu filho roubou produtos para poder ganhar dinheiro, ou como sua filha se porta na presença de homens. Tudo o que importa é o seu futuro trabalho.

     No momento em que ele deveria repreender o filho e fazê-lo pagar pelos seus atos errados, ele simplesmente os encobre (já que a meu ver, ele apenas queria se livrar dos olhos da policia em cima dele). Como pai, ele deveria saber que suas ações (de estar se afastando de sua família) iriam afetá-los.

     Uma das coisas mais interessantes que vi no filme foi o fato de Davert e sua família nunca, em momento algum, assistirem um programa que não apresentasse um conteúdo mais violento. Todo o momento em que ele, ou alguém de sua família, está próximo a televisão, sempre passa um filme de violência (com uma pessoa matando outra), ou um noticiário com a temática também na violência.

     O mais assustador: isso diverte o personagem principal. Pode ter sido uma forma que ele encontrou de não “enlouquecer por completo”. Mas o estranho, e fascinante nessa história, é como a mente dele, que foi tão afetada por todos os fatores externos que o cercam, que ele não tem mais discernimento do que é certo e do que é errado. E isso de fato acontece na vida das pessoas. 

     Estamos sendo afetados por tantas situações que simplesmente não encontramos algo que poderiam nos livrar de algo pior. Por exemplo: ele estava desempregado, mas isso não o impedia de assistir programas referentes a seu trabalho, não o impedia de se especializar mais naquilo que ele tanto amava (mesmo que ele tenha lutado já por tantos anos para se transformar no profissional que era); e também não o impedia de aceitar empregos menores (mas seu orgulho o impedia, é claro).

     Mas, o mais incrível disso tudo é a frieza que ele trata tudo aquilo que ele faz. Davert conversa com alguns de seus concorrentes antes de exterminá-los, e porque, ao invés de estender a mão a uma pessoa que estava na mesma situação que ele, que estava na mesma situação de decadência, todos com suas famílias; porque ele preferiu cometer tais atrocidades ?  Isso tudo mostra o homem frio que ele acabou se tornando, desesperado para recuperar sua dignidade, sua paixão e tudo aquilo que foi roubado dele.

     Mas o que ele não esperava e simplesmente não contava: existiam muitos outros candidatos, e eles também poderiam cobiçar o status que ele alcançou novamente após matar todos os outros concorrentes. E isso acontece de fato no final, ele finalmente se depara com seu destino fatal, que o próprio começou. 

     Será que valeu a pena ? Um homem que poderia estar, não completo, mas no mínimo feliz por simplesmente estar com sua família ?



     Foram com todos esses argumentos que criei meu cartaz promocional do filme. Os “bonecos” em vermelho, representariam 3 coisas:  1)  todos os concorrentes que existiam no trabalho que Davert queria;  2)  o sangue que ele derramou por conta de seu objetivo final;  3)  vermelho é uma cor quente, e isso representa a humanidade que ainda existe em cada um dos concorrentes.

     O “boneco” em azul representa Davert, em toda sua frieza e loucura para alcançar o topo e reconquistar aquilo que lhe pertencia por “direito”. Cada   x    representam os alvos é claro, e como o próprio Davert os trata (como a empresa que o despediu o tratava: como um número; como mais um trabalhadorzinho).


     Link para o cartaz promocinal feito por mim para a matéria de Ética :




Bom, espero que tenham gostado; obrigado.

PS: vejam o filme, é muito interessante.

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